(...)
- Não, Ângela, é como se ele estivesse a cair dum penhasco e tu lhe desses a mão. Ele já largou a tua há muito tempo, mas tu continuas a agarrá-lo cada vez mais. E não podes. E isso faz com que a ideia que tens dele nunca te largue e te consuma. Não é ele, porque ele já se foi embora há muito tempo. A ideia que tu fizeste dele é que nunca te largou. Tens de te desprender dela para fazeres a tua vida e não deixares o tempo passar como tens feito. É como se estivesses cheia de fome e tivesses uma maçã deliciosa nas mãos e a deitasses fora. É exactamente isso que tu fazes. E agora, explica-me: com que necessidade? Porque raio é que não paras de complicar o que é simples?
- Eu sei. Mas compreende que se eu desfizer esta ilusão, fico completamente vazia.
- Tu fechaste-te num baú com a ilusão que tens dele e deitaste a chave fora. Só tu sabes onde está a chave e mesmo assim não a vais buscar.
- Não me arrisco a sair do baú para depois ficar completamente sozinha do lado de fora.
- Tens de o fazer. A não ser que queiras ficar toda a vida a desperdiçar o que há de bom por causa de alguém que já avançou há imenso tempo. Agora, diz-me, mudei alguma coisa na tua opinião? Fiz-te pensar ou gastei saliva para nada? Diz-me só sim ou não.
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