A porta abriu-se contigo. Trouxeste no dia o meu chão. Levaste na noite o que deixaram por aqui perdido. Quando vieste pela primeira vez, mostraste-me as mãos vazias e os olhos cheios de histórias. Pediste-me que te levasse o medo e que deixasse a coragem. E eu disse-te, Não partas e eu fico. E dançaste, num beijo apertado, em mim. Na tua mão carregas-me a alma e adormeces-me. E, agora, neste quarto, contigo, não sei que poderá faltar. Vejo-te de tronco nu com o sangue a pulsar nas veias enquanto recolhes os frutos do que enlaçámos. O teu perfume fica na escada, nos lençóis, no muro, no chão, no carro, no sofá, na secretária. Na TV o teu canal enfadonho como tu está aberto. E eu deixo-o ligado, sempre ligado, e oiço os relatos enfadonhos que te trazem de volta ao meu ventre. Na lareira, na minha pele nua, nos teus lençóis, o teu fogo pulsado está posto. Nos cobertores de inverno que usávamos no verão onde estão os teus gestos discretos e secretos que só eu conheço, encontro o teu nome. Desenhos dos nossos corpos extasiados são o nosso mapa. Os nossos corpos na cama fechada que segura o nosso reino e a nossa ansiedade de intersecção em um só. Um corpo, uma matéria, a querer unir-se incondicionalmente a outro seu igual. Vejo os teus filmes preferidos como se estivesses a espalhar gargalhadas pela sala. O teu corpo igual ao meu, a mesma sede, a mesma ânsia, a mesma natureza. Tu e eu somos dois pássaros loucos. Voamos pelas ruas das quais fizemos céu e inferno. Somos a pele um do outro. Sei decor o teu peito. E o teu pescoço moreno. E a tua barba. E as tuas sobrancelhas desarrumadas e divertidas. E as tuas costas largas e flexíveis. E o teu olhar brincalhão e envolvente. E a tua camisa rasgada pela vontade. A luz da noite e a tua pele de quem quer tanto fundem-se, pedes-me para te chamar deus e eu chamo. Não passo de uma plebeia a teu lado. Não sei que mais posso ser ou dar. Umas vezes fraca, outras vezes gladiadora, outras vezes heroína das tuas histórias fantásticas. Umas vezes cigarros, outras vezes sessões loucas de amor. Umas vezes amor, outras vezes foder. Queres gritos de dor ou gritos de prazer? Queres gargalhadas ou soluços? Queres sorrisos ou olhares trágicos? Tantos hotéis tantos quartos, tantas camas alheias, amar e partir, Prometo amar-te lentamente para a próxima vez, prometo que será perfeito. Promessas vagas escritas no ar, assinadas por ambos, à espera de serem cumpridas, Fico contigo para sempre, Serás a única e exclusiva, És a mulher da minha vida. Quando me beijas, fazes-me acreditar na madrugada, penso alucinar, vejo estrelas, sinto êxtase. O teu cheiro é doloroso. O teu sabor é veneno. Mas beija-me até matar a saudade, voar, cantar e adormecer.
Não tenho segredos. Leva-me ao purgatório. Escondo-me nos teus dedos. Somos metades iguais. Hoje, e sempre, leva-me para onde vais. Não partas sem me dizeres o teu nome. Não leves o perfume de tantas noites mais. Porque quem ama tem medo de perder. E eu temo, a cada passo, segundo, toque, lágrima, suspiro, gargalhada, beijo, olhar, grito, orgasmo. Eu temo constantemente. O amor é inconstante. Mata-me de amor ou dá-me liberdade. O amor é inconfiável. Tenho-te amor, tenho-te medo. Eu amo-te.
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