- avó, a mãe e a tia dizem que morrerás em breve. é verdade?
- não, minha filha. viverei ainda por muito tempo, ainda vou conhecer os meus bisnetos. prometo.
gostava que me tivesses visto a dar concertos no virgínia, gostava que tivesses lá estado para celebrar o meu exame de piano, gostava que tivesses ido assistir aos concertos de coro, gostava que me tivesses visto crescer, gostava que estivesses orgulhosa na pessoa que me tornei, gostava que me levasses ao altar, gostava que conhecêsses os meus filhos e que ficasses orgulhosa por dar o teu nome a uma delas, gostava que tivesses lido o meu livro, gostava que cá tivesses estado quando perdi o outro amor da minha vida (tu terias percebido sem eu ter de falar), gostava de te ver assim que chegasse a casa, gostava de te dar um beijinho de boa noite todos os dias, gostava de sentir de novo o cheiro a chá e torradas de manhã, gostava de te ler todas aquelas histórias de novo. gostava apenas que me devolvessem a minha mãe, porque sem ela a mais ínfima coisa nunca poderá fazer sentido. sem uma mãe é impossível criar algum sentido na vida, transmiti-lo para outra geração. vou crescer sem propósito, sem sentido. porque me tiraram a mãe. não quero ter filhos porque nõ quero que eles sofram o que eu sofri. porque me tiraram a mãe, não quero que lhes tirem a mãe.
continuo a afirmar sem qualquer dúvida: darei toda a minha vida, apenas para viver mais um único dia contigo. não é um exagero, não é um drama. é o desespero, é a saudade de uma filha para uma mãe. a saudade de alguém que perdeu a capacidade de ser acarinhada e de acarinhar, de amar e ser amada. a saudade de alguém que já não confia e que já não sabe o que á a beleza do mundo, porque se me tiraram a única coisa que tinha, como posso voltar a acreditar no que quer que seja?
e, ainda hoje, não me zango com aquela mulher sábia por ter quebrado a sua promessa.
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