Fernando Pinto do Amaral - A única resposta

Jantáramos os dois pela primeira vez:
amizade ou amor, pouco interessava
desde que ali estivesses. O meu mundo
ia mudando à medida do teu,
a cada gesto vão da vã conversa
antes que fôssemos pelo Bairro Alto
e enfim o Lumiar, a tua casa.
Eu podia contar uma história, dizer
como aquele rosto atravessava o meu - mas não,
«nada de narrativas, nunca mais».
Apenas a certeza de estar morto
há tanto tempo, que já não me lembro
de cor nenhuma dos teus olhos. Não,
já não existe o dia nem a noite
e este silêncio deve ser talvez
a única resposta. É bem melhor
ficar à espera de que não regresses.

(e não vais regressar, nunca mais. e, mesmo que regresses, todas as portas que se mantiveram abertas durante anos, fecharam, deixaram de existir, foram eliminadas, apenas sobram paredes manchadas de nojo e repugna.)

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